segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Velhinhos do barulho


Velhinhos do barulho
por Ivan Lessa

São os velhinhos aposentados. Que eles chamam de Old Age Pensioners. OAPs. Estou nessa, embora prefira me referir e que se refiram a mim como “na terceira idade”. Soa melhor. Não tenho pensão de coisa alguma. Fiz refeição numa ou noutra. Só.
Tenho umas economias que rendem uma titica, mas já fiz as mórbidas contas: se eu apertar ainda mais o cinto, dá para viver mais uns 5 aninhos só vendo televisão, relendo os livros que tenho e ouvindo com a atenção que meus ouvidos OAPs permitirem a discarada que acumulei durante os últimos (mais ou menos) 60 anos.
Importar xarope de groselha? Nem pensar. Os velhinhos e velhinhas têm certas vantagens. Quando completei 65 anos aqui, ganhei o que eles chamam de “Freedom Pass”, tal de “passe da liberdade”. O passe já foi apenas cartão de aposentado, simplesmente, o que era mais digno e condigno com a verdade.
Dava e dá direito a viajar de graça em ônibus e metrô, contanto que não seja na hora do rush, para não ocupar lugar diante dos que ainda têm que trabalhar para cavar a própria sepultura. Um bom desconto em teatro, metrô e viagem de trem. Sempre sem ser no tempo dos que se encontram na flor, ou primeira e segunda idades.
Sempre simplifiquei pragmático que sou: para mim, o tal do “passe da liberdade” não passa de certificado de velhice. Pelo menos, até agora, os mais velhos, meus companheiros aposentados e com pensão, ainda merecem do resto da jovem e tola população um certo respeito.
Cabelo branco é cabelo branco, careca é careca e pança é pança. Quando velhos e velhas deixarem de impor respeito, vão derrubar no chão, chutar a cara e levar a carteira e tudo mais que estiver dando sopa. De vez em quando acontece. Infelizmente.
Para variar, andaram por aí, de alto a baixo no Reino Unido (e para os lados também) fazendo pesquisa, que isso é razoavelmente bem pago e, dizem, oferece boas pensões.
A pesquisa foi sobre os anseios que ainda ocupam a mente, o peito e o et cetera daqueles e daquelas com mais de 65 anos. 1500 deles e delas. Algumas surpresas. Ao contrário do que se esperava, não são – não somos? – críticos contrários aos modos de vida da garotada. Pelo contrário. Morrem de inveja.
O que eles e elas querem mesmo é sexo, roquiendirôl e birinaites. A maior parte diz que, se pudesse viver sua vida de novo, peitaria com mais vigor os patrões, além de mudar com mais freqüência de emprego.

Sexo, sexo, sexo

A questão mais popular entre os velhinhos (dou o nome aos bois, ou boys) é, assim como entre vocês, garotada, sexo. Seguida de sexo e depois de mais sexo. Todos eles lamentam não terem tido mais sexo. Todas elas também. Culpam os modos e costumes do pós-guerra, quando tiveram de enfrentar outros inimigos: a hipocrisia da sociedade e um suposto código de boas maneiras.
70% da turma gostariam de ter queimado mais incenso no altar de Vênus, para usar de um eufemismo que, mesmo por volta de 1945, já caducava. Uma boa quantidade de gente abre o jogo para valer: 300 deles (nunca esquecendo que há elas aí) preferiam ter se casado com outra pessoa.
Uma surpresa. Depois de sexo, sabem o que eles mais gostariam de ter feito? Viajar. Inglês, ou britânico, é assim, uma gente doida para se mandar mundo afora. Coisa de povo ilhéu. Também são meio sovinas os grisalhos senhores e senhoras: gostariam de ter gasto menos dinheiro com bobagem (e o que é que eles chamam de “bobagem”?) e comprado à casa própria mais cedo.
Felizmente são contraditórios e não fazem sentido os OAPs. Que é para acabar com essa história de que, com a idade, vem a sabedoria. De garantido, vem mesmo é reumatismo. Os velhos uma hora querem uma coisa, outra hora querem outra. Por exemplo: 32% das senhoras pesquisadas preferiam não ter perdido a virgindade com a idade que perderam. Mas gostariam de ter feito mais sexo, confere? Tãotá.
Diz o ditado que a juventude é desperdiçada com os jovens. A velhice também é desperdiçada com os velhos, é o que se depreende.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

"Wilma e Elza" em DOIS IRMÃOS


O espetáculo "Wilma e Elza" começará 2011 realizando uma série de apresentações na cidade de DOIS IRMÃOS, serão ao todo 4 apresentações dentro do projeto SEMPRE AS TERÇAS.  

A Curto Arte( http://curtoarte.com.br/inicia 2011 com o  projeto Terçalegre, que tem a proposta de trazer cultura a todo o Vale dos Sinos, todas as terças-feiras, tendo o início no dia 08 de fevereiro, sempre às 20:33 min.  Nas primeiras terças- feira  teremos  os espetáculos da Cia Curto Arte, após virão espetáculos de toda a região entre eles espetáculos para o público infantil e adulto. Desta forma oportunizaremos lazer e cultura para toda a família. E "Wilma e Elza" estarão se apresentando dentro do projeto no dia 29 de março as 20:33 hs no Teatro Adriano Schenkel. E retorna para uma curta temporada no mesmo espaço nos dias 12,19 e 26 de abril sempre as 20:33 hs.

Ingressos antecipados a R$ 12,00 no Armarinhos Petry, Teatro Adriano Schenkel, Posto Bruder e Yázigi (tudo em Dois Irmãos)
Endereço do teatro: Av. São Miguel, 830, sala 04 / travessa Mário Sperb - Centro
telefones: 51 3564-4888 e 9627-3713

Idoso ou velho?


Ser um idoso ou ser um velho
Jorge José de Jesus Ricardo (Jocardo)
Balneário Camboriú-SC
IDOSA é a pessoa que tem muita idade; VELHA é a pessoa que perdeu a jovialidade. A idade causa a degenerescência das células; a velhice causa a degenerescência do espírito. Por isso, nem todo idoso é velho e há velho que ainda nem chegou a ser idoso.

O mesmo acontece com as coisas: há coisas que são "idosas" (antigas) e há coisas que são velhas. Um vaso da Dinastia Ming (1368-1644) pode ser uma antigüidade, uma relíquia que não tenha preço; um outro, de apenas uns 50 anos ou menos, pode ser um vaso velho, relegado a um depósito.

Você é idoso quando pergunta se vale a pena; você é velho quando sem pensar responde que não. Você é idoso quando está pronto a correr riscos; você é velho quando procura correr dos riscos. Você é idoso quando sonha; você é velho quando apenas dorme. Você é idoso quando ainda aprende; você é velho quando já nem ensina. Você é idoso quando pratica esportes ou de alguma outra forma se exercita; você é velho quando apenas descansa. Você é idoso quando ainda sente AMOR; você é velho quando só sente ciúmes e possessividade. Você é idoso quando o dia de hoje é o primeiro do resto de sua vida; você é velho quando todos os dias parecem o último da longa jornada. Você é idoso quando seu calendário tem amanhãs; você é velho quando seu calendário só tem ontens.

O idoso é aquela pessoa que tem tido a felicidade de viver uma longa vida produtiva, de ter adquirido uma grande experiência; ele é uma ponte entre o passado e o presente, como o jovem é uma ponte entre o presente e o futuro e é no presente que os dois se encontram. O velho é aquele que tem carregado o peso dos anos; que em vez de transmitir experiência às gerações vindouras, transmite pessimismo e desilusão. Para ele, não existe ponte entre o passado e o presente, existe um fosso que o separa do presente pelo apego ao passado.

O idoso se renova a cada dia que começa, o velho se acaba a cada noite que termina, pois enquanto o idoso tem seus olhos postos no horizonte de onde o sol desponta e a esperança se ilumina, o velho tem sua miopia voltada para os tempos que passaram. O idoso tem planos, o velho tem saudades. O idoso curte o que lhe resta de vida, o velho sofre o que o aproxima da morte. O idoso se moderniza, dialoga com a juventude, procura compreender os novos tempos; o velho se emperra no seu tempo, se fecha em sua ostra e recusa a modernidade.

O idoso leva uma vida ativa, plena de projetos e prenhe de esperanças. Para ele, o tempo passa rápido, mas a velhice nunca chega. O velho cochila no vazio de sua vidinha e suas horas se arrastam destituídas de sentido. As rugas do idoso são bonitas porque foram marcadas pelo sorriso; as rugas do velho são feias porque foram vincadas pela amargura.

Em suma, idoso e velho, duas pessoas que até podem ter a mesma idade no cartório, mas têm idades bem diferentes no coração.

Sou idoso (tenho quase 70 anos), mas espero que nunca fique velho.

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Artigo vencedor do 1o Concurso Literário para a Terceira Idade, promovido pela UDESC-Universidade do Estado de Santa Catarina, Fundação Viva Vida e Conselho Nacional do Idoso, e publicado no livro "Poesias Contos Crônicas"- Editora da UDESC-Florianópolis

PROCESSO DE CRIAÇÃO DE WILMA E ELZA


Tuti Kerber em 2009 em oficina de maquiagem.


A partir de hoje vamos começar a compartilhar um pouco sobre o nosso processo criativo de "Wilma e Elza", dividindo com nossos leitores alguns dos nossos referenciais teóricos e estéticos que nortearam o nosso trabalho. Utilizamos uma séria de crônicas para compor a nossa imensa colcha de retalhos que é o texto/roteiro do espetáculo. Alguns dos textos nem utilizamos, serviram apenas de inspiração dentro do criativo processo. Abaixo uma crônica de Anna Mautner.


Do que eu preciso?

Anna Veronica Mautner*

A fronteira entre acumular pensando no futuro e o vício de guardar coisas inúteis parece tênue e é preciso saber reconhecê-la. Desde pequenos, quando ganhamos nossa primeira caixinha ou gaveta para guardar brinquedos, até adultos, donos de nossas casas, temos de exercer constantemente o poder de decisão -saber o que guardar e o que jogar fora, sem chorar depois. Viver rodeado do passado pode ser confortável, mas afundar nele é pesado e acaba tendo como resultado a sensação de que o nosso futuro -os sete palmos de terra- já está aqui. Com espaço, é fácil manter ordem e encontrar o que procuramos. Cada coisa tem um tempo de vida -e há também a hora certa de se desfazer delas.

Vivendo em tempos de obsolescência precoce, como no caso dos aparelhos eletroeletrônicos, desfazer-se é imposição, com tempo previsto pelos fabricantes. Rádio velho poucos guardam. De roupas, louças e engenhocas ninguém sabe quando é hora de se desfazer. Nem estou falando ainda sobre o mar de papéis a nos inundar o cotidiano, cujo prazo de guarda é estabelecido pelo governo e por estatais. A Receita Federal exige que todo cidadão guarde por uns tantos anos recibos de tudo que descontou. Eis um campo em que não se confia em computador. Para recibos ou procurações, é o papel que vale. E, quando o cidadão morre, cabe aos herdeiros, no que costuma ser um dia dos piores, remexer as intimidades oficiais do falecido. Aí, os sobreviventes decidem o que fica com quem e o que vai.

Nós, vivos, donos únicos das nossas coisas, resolvemos a cada dia o que vai e o que fica. "Será que um dia ainda vou receber para jantar ou posso passar adiante as minhas travessas?" Esse tipo de pergunta faz parte do amadurecimento, não só do envelhecimento. Quando é hora de jogar fora velhas cartas de amor? É sempre triste imaginar que ninguém vai curtir as fotografias que tanto significam para mim.

Viraram notícia os casos extremos de inutilidades acumuladas por certas pessoas, sempre gente solitária. O mau cheiro, os insetos e as queixas dos vizinhos acabam decidindo pelo indeciso acumulador. Li até um caso de uma pessoa que dormia na garagem, dentro do próprio carro (que também não era usado), por falta de outro espaço livre.

Não é só a morte a ameaça temida por aquele que acumula. Criança odeia quando jogam fora seus brinquedos, mesmo os velhos e quebrados. Freqüentemente o espaço privativo dos jovens vira depósito de camisetas, tênis, meias, CDs e engenhocas que eles pretendem reciclar um dia -que nunca chega. Numa kitchenette de jovem, encontramos dois copos e dois pratos, mas no corredor estão penduradas dez mochilas pelo menos.

O apego nem sempre resulta de escassez, traumas ou carência. É muito mais uma forma de protelar a chegada do dia de amanhã e de continuar fazendo de conta que hoje é ainda ontem. A síndrome de "juntar coisas" com a falta de espaço gera um estresse que nos torna mais indecisos ainda e menos seguros para jogar fora. O que importa para usar amanhã, esse dia tão desconhecido? Para não jogar nada fora, basta ter medo do amanhã.

[...] Cada coisa tem um tempo de vida, e há também a hora certa de se desfazer delas

*Anna Veronica Mautner, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ágora)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

WILMA & ELZA retorna aos palcos

O espetáculo "Wilma e Elza" retorna a cena em 2011, dentro do Projeto Terçalegre no município de Dois Irmãos.
O projeto tem a proposta de trazer cultura a todo o Vale dos Sinos, todas as terças-feiras, tendo o inicio no dia 08 de fevereiro, sempre às 20:33 min. Então anotem aí dia 29/03 "Wilma e Elza" em Dois Irmãos no Teatro da Curto Arte. 

Em breve mais informações sobre novas apresentações.