O ESPETÁCULO


Wilma e Elza são duas velhas amigas. Duas mulheres que vivem num mesmo espaço, sozinhas e excluídas. Com idades avançadas, elas se completam para se manterem vivas, dia após dia. A angústia e a urgência em estarem vivas neste espaço fazem com que elas elaborem um plano, onde mostram situações cômicas e surpreendentes do passado. Duas mulheres que preservam manias e neuroses, oscilando entre o lírico, o cômico e o absurdo, desenvolvendo um jogo no qual vão revelando suas memórias através das fantasias que criam. Dentro deste jogo existe um conflito que as leva ao limite, gerando um final surpreendente. O espetáculo traz um olhar sobre a condição desumana a que são submetidas às pessoas que estão de alguma forma privadas de sua liberdade. O enredo gira em torno do universo da velhice, seu jeito de ser, de ver e viver a vida. Retrato da solidão e da privação de liberdade através de uma linguagem divertida e simples, sendo recomendado a todas as idades.

Trajetória do espetáculo
O espetáculo “Wilma e Elza” estreou na cidade de Brochier em março de 2009, e desde então vem percorrendo diversas cidades do interior do estado como: BROCHIER, FELIZ, BOM PRINCIPIO, SÃO VENDELINO, TUPANDI, HARMONIA, SÃO SEBASTIÃO DO CAÍ, MONTENEGRO, VALE REAL, MARATÁ, PRESIDENTE LUCENA, MORRO REUTER e novamente em MONTENEGRO. O espetáculo teve parcerias nas apresentações com o PROGRAMA “Arte SESC - Cultura por toda a parte”, que possibilitou a apresentação do espetáculo nas cidades de São Sebastião do Caí e em Montenegro e da FUNDARTE/UERGS que devido à boa receptividade do público retornou o espetáculo na cidade de MONTENEGRO. No 2º semestre de 2010, o espetáculo retoma a estrada a estrada realizando mais apresentações nas cidades: MORRO REUTER, NOVO HAMBURGO - FEEVALE E BROCHIER.

Descrição da montagem do espetáculo
A estrutura da peça foi construída a partir da improvisação das atrizes calcadas em motes pré-estabelecidos, textos literários e dramáticos e imagens que pudessem auxiliar na construção deste universo. A partir deste trabalho o diretor registrava as imagens de tudo o que era realizado na sala de trabalho, e posteriormente ia escrevendo o roteiro que retornava a sala de trabalho para ser novamente improvisado, e que por fim tornou-se a estrutura final do espetáculo. O resultado foi uma montagem divertida, em que a ação das personagens provocam o riso e consecutivamente provocam a reflexão acerca de temas como solidão, velhice, abandono, amizade e cumplicidade.

Objetivo da montagem
O espetáculo Wilma e Elza surgiu da possibilidade de se discutir o universo do idoso, da 3ª idade. Nossa busca partiu da necessidade de falar deste contexto, sobre o cotidiano de duas velhas senhoras, de idades avançadas, porém, não queríamos retratá-las como vítimas de uma sociedade que muitas vezes discrimina e não valoriza as pessoas idosas. Então decidimos que o espetáculo não trataria da doença dos idosos, mas sim, de pessoas que, apesar da idade, pudessem sonhar e resgatar as suas memórias, e através desta trajetória criar um mundo somente delas. E este foi o fio condutor da pesquisa e construção do roteiro do espetáculo. Então depois de vários experimentos chegamos à história de Wilma e Elza, duas senhoras que moram juntas em algum lugar, lugar este que não é revelado no inicio da peça, na medida em que a narrativa avança, as personagens dão algumas pistas de que lugar é este em que elas estão. No inicio pensamos que poderia se tratar de um asilo, de uma casa de repouso, de um hospital ou algo parecido, mas aos poucos vai se revelando que elas estavam numa prisão pelo fato delas terem cometido um crime que consistia em seqüestrar mendigos para ficarem com seus planos de previdência. O objetivo da peça era de que o espectador ao longo da trama fosse sendo “conquistado” pelas estórias e narrativas destas duas senhoras dignas de pena, mas que depois da revelação, elas ainda mantivessem essa sensação pelo fato de que elas cometiam os crimes não por maldade, mas como uma forma de se manterem úteis e ativas numa sociedade em que o idoso é muito discriminado e descartado. Esse detalhe da narrativa foi baseado em uma notícia jornalística real, que havia acontecido nos Estados Unidos. Então partimos desta noticia e construímos toda a história destas senhoras com suas manias e neuroses, desejos e sonhos para ao final revelar um passado de lembranças não tão românticas assim. O nosso grande objetivo é falar sobre velhos, idosos, aposentados, sem que caíssemos na armadilha de retratar o lado negativo desta fase da vida, pelo contrário, buscamos com este espetáculo fazer uma grande homenagem aos idosos e ao mesmo tempo provocar uma consciência nos jovens, pois um dia, como a própria personagem diz, todos chegarão lá.

Justificativa do projeto
O projeto “Wilma & Elza” surgiu da possibilidade do Grupo NEC – Núcleo de Experimentação Cênica comemorar os seus cinco anos de trabalho continuado, e seguir pesquisando sobre a linguagem cômica e popular, já experimentada em trabalhos anteriores do grupo, pesquisa esta que neste ano de 2010 proporcionou ao grupo a parceria com o TEATRO DO CLÃ, por se tratar de ambos os grupos pesquisarem sobre a linguagem do teatro popular. Gostaríamos de criar um espetáculo que fosse de encontro ao público, não que esta não fosse a nossa preocupação nos outros trabalhos, mas que desta vez, pudéssemos dialogar diretamente sobre temas e assuntos pertinentes à sociedade atual, partindo dos nossos anseios e de uma dramaturgia criada durante o processo. Dentre os temas pensados, surgiu o abandono na terceira idade. Mas a priori, este tema, além de não nos trazer algo concreto que pudéssemos desenvolver na linha de pesquisa da comédia, pelo contrário, o material coletado nos remetia somente aos dramas e tragédias familiares que contextualizavam o cotidiano dos idosos, além de corrermos o risco de apenas criar personagens caricatos sem nada a dizer, vazios em sua essência. Então seguimos nossa pesquisa buscando encontrar em crônicas e textos literários assuntos que abordassem o idoso partindo de um viés fantástico e poético, que deixasse de lado as marcas carregadas durante toda a trajetória de vida. Com isso chegamos a um texto do “Mario Prata” que falava sobre a adolescência X envelhescência, e eis que pela primeira vez vislumbramos o cerne do projeto, que era o de colocar no centro da discussão, a história de duas velhas presidiárias, que mesmo em situação de privação nunca deixaram de sonhar, criando um mundo somente delas, onde a imaginação, o lirismo e o absurdo estão lado a lado, sendo explorados em todas as situações da peça. A concepção do espetáculo foi pensada em colocar em cena todo o universo destas duas senhoras. Para isso construímos um cenário e todos os adereços em proporções absurdas, fora do padrão, com tamanhos e formas que a priori já causam um estranhamento. O espaço foi pensado para criar uma (falsa) ilusão de um ambiente familiar, confortável e estável, e que, aos poucos vai se revelando como um espaço não familiar, para no final, revelar que por trás das paredes estampadas e coloridas estão escondidas as grades de uma prisão que revelam as marcas de Wilma e Elza. Estas marcas são justamente as histórias do passado e presente, mesclando o onírico e a fantasia dos discursos destas duas senhoras que apesar da situação, não transparecem a dor de estar presa, pelo contrário, vivem inventando e reinventando o cotidiano atrás das grades, relembrando histórias que giram em torno das esperanças, da família, dos casos amorosos e de outros fatos que marcaram suas vidas.